Em um post anterior, descrevi algumas características principais do processo de avaliação comportamental inicial e suas relações com o diagnóstico médico. Vimos que, por definição, uma avaliação fundamentada nos princípios da Análise do Comportamento envolve observação da criança nos seus ambientes naturais, além do que podemos examinar e analisar no espaço do consultório (setting clínico). Somente assim, teremos uma amostra significativa dos comportamentos-alvos e, consequentemente, mais condições de planejar uma Terapia ABA eficiente. Por isso, os principais ambientes em que observamos os comportamentos da criança são: consultório, casa e escola.
No setting clínico (consultório), o analista do comportamento tem a possibilidade de observar os comportamentos da criança de forma mais estruturada, estabelecendo condições do ambiente para examinar se e de que maneira a criança responde a determinados estímulos. O profissional organiza conjuntos de atividades e demandas a serem apresentadas para a criança e observa/registra o desempenho dela. Por exemplo, para avaliar contato visual, o analista do comportamento pode propor uma atividade de interesse (brincar com peças de encaixe) e, durante essa atividade, chamar a criança pelo nome. Se a criança atende ao chamado, o analista registra o comportamento dela naquele momento e dá seguimento à avaliação. Se ela não o atende, o analista pode testar outras condições como chama-la e mostrar um outro item de interesse dela. O profissional também pode dar ajuda para a criança olhar para ele e, em seguida, disponibilizar o item de interesse. Todas as respostas da criança são registradas.
Além disso, o analista do comportamento também pode contar com instrumentos de avaliação padronizados. Eles também são excelentes fontes de informação sobre os comportamentos que serão alvos de intervenção na Terapia ABA. Alguns deles: Teste de reforçadores, VB-MAPP, ABLa, ABLLS, entre outros. Esses instrumentos e a observação estruturada do setting clínico são fortes aliados do trabalho do analista do comportamento.
Outra importante fonte de informações sobre os comportamentos da criança é o ambiente familiar. A avaliação na casa prioriza a observação dos comportamentos da criança em sua rotina habitual (por exemplo, como a rotina dela está estruturada e como ela se comporta frente a essa rotina), nas interações com pessoas significativas desse ambiente e nas principais situações diárias vivenciadas por ela. Nesse ambiente também temos a oportunidade de observa in loco principais habilidades já adquiridas pela criança, bem como suas principais dificuldades. São observados comportamentos como: interação com pais, interação com irmãos (quando a criança os tem), interação com outras pessoas da rotina da casa, comunicação, manejo de brinquedos e habilidades relacionadas ao brincar, autonomia nas atividades de vida diária, etc.
Para completar o processo de avaliação, o analista do comportamento também observa a criança no ambiente escolar (quando a criança já o frequenta). De forma equivalente ao que é observado na casa, na escola são observados e avaliados comportamentos como interação com pares e professores, habilidades relacionadas ao brincar e manejo de brinquedos nesse ambiente, habilidades relacionadas à autonomia e seguimento da rotina diária, habilidades relacionadas ao desempenho acadêmico, principais dificuldades, etc.
Vale ressaltar que nos ambientes da casa e da escola, a observação é feita de forma menos estruturada que no ambiente clínico, no sentindo de que o analista do comportamento tem menos controle das variáveis presentes nesses ambientes. No consultório, por exemplo, o profissional pode minimizar a quantidade de estímulos, deixando somente os materiais que serão utilizados durante a avaliação. Na casa e na escola, esse manejo não é possível. É nesse sentido que estou chamando a avaliação nesses dois ambientes de menos estruturada. Ainda assim, o analista do comportamento utiliza procedimentos de avaliação coerentemente fundamentados na Análise do Comportamento como a Avaliação Funcional, por exemplo (falarei com mais detalhes sobre esse procedimento em outros posts).
O processo de avaliação comportamental inicial só é finalizado depois de sistematizadas as informações sobre os comportamentos-alvos obtidas nos três ambientes: consultório, casa e escola. Eventualmente outros contextos também podem ser observados como aulas de natação, sessões com profissionais, etc. Ao término desse processo são fechadas as metas iniciais de intervenção e combinado com a equipe (família, profissionais, escola) os procedimentos e estratégias que serão aplicados.
Por fim, retomo a autonomia e independência dos processos de avaliação comportamental e do diagnóstico de TEA. A avaliação comportamental pode e deve ser realizada aos primeiros sinais significativos de atraso no desenvolvimento da criança. Esse processo de avaliação pode, inclusive, ser fonte de informações relevantes para o diagnóstico.
A avaliação comportamental é um processo contínuo, inerente a todo o período de Terapia ABA. Em próximas publicações falarei sobre as características desse processo. Até o próximo encontro!
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