No primeiro post dessa série examinamos a noção de comportamento para a Análise do Comportamento e suas implicações sobre a terapia ABA. Vimos que comportamento é a RELAÇÃO entre ambiente e indivíduo. Como se dá essa relação ou essas relações? Para você entender melhor isso, precisamos examinar dois conceitos também extremamente importantes: estímulos e respostas. Calma! Sempre tenho a sensação de estar sendo veladamente taxada como reducionista toda vez que menciono esses dois conceitos. Tentarei desmistifica-los ou pelo menos torna-los mais acessíveis.
Estímulos são nada mais que aspectos do ambiente correlacionados a respostas do indivíduo. É importante entender que quando falo de ambiente, estou me referindo não só ao ambiente físico (clima, temperatura, objetos inanimados, estímulos luminosos, etc.). Para a Análise do Comportamento, ambiente também engloba pessoas (e seus comportamentos) e até mesmo o próprio indivíduo. Por exemplo, quando analiso o comportamento de gritar em sala de aula de uma criança, preciso olhar para estímulos como:
Essas são somente algumas possibilidades explicativas da ação de gritar da criança. São somente alguns exemplos de estímulos que podem estar relacionados a essa ação. Note que os dois primeiros deles se referem a características do ambiente físico. Os exemplos 3 e 4 já se referem a estímulos do ambiente social (comportamentos de outras pessoas). O exemplo 5 se refere a uma condição da própria criança. Só por esses exemplos você consegue imaginar a complexidade do que são os estímulos para a Análise do Comportamento?
A mesma complexidade é aplicada para a noção de resposta. Respostas são ações ou conjuntos de ações do indivíduo na sua relação com o ambiente. Ainda utilizando o exemplo da criança que está gritando, gritar é a resposta. Mas o comportamento em questão só poderá ser delimitado, olhando essa resposta na sua relação com os estímulos do ambiente. Você concorda que gritar porque está com dor de barriga é diferente de gritar porque a atividade está difícil? Em ambos os casos, podemos até dizer que a criança está se comunicando (ou pelo menos tentando). Porém, as intervenções necessárias sobre uma e outra situação são completamente diferentes. No caso do gritar porque está com dor de barriga, a professora precisaria medicar a criança, por exemplo. Já no caso do gritar por conta da dificuldade da atividade, a professora precisaria avaliar a necessidade de dar ajuda para a criança ou até mesmo trocar de atividade. São dois encaminhamentos totalmente distintos.
Além disso, qualquer mudança em uma dimensão da ação de uma pessoa pode resultar em mudança do próprio comportamento em questão. Suponha que você encontre alguém na rua e essa pessoa estenda a mão para cumprimenta-lo. Se a pessoa segurar sua mão por muito tempo (ou um período além do que você considera adequado para um aperto de mão), quais serão seus pensamentos? Dependendo de quem for a pessoa e do contexto, você poderá até imaginar que talvez ela esteja flertando com você, certo?
É por conta da complexidade dos estímulos, das respostas e das relações estabelecidas entre eles que a noção de comportamento para a Análise do Comportamento é igualmente tão complexa. Um olhar apurado é crucial para uma análise adequada dos comportamentos em questão e, consequentemente, para a intervenção fundamentada na ABA.
Falaremos muito sobre estímulos e respostas daqui para frente. Por enquanto, deixo você assimilar um pouco dessa complexidade.
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