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A terapia chamada Terapia ABA e o “status” de analista do comportamento no Brasil: informações úteis

Mary • 12 de agosto de 2016

Muitos seguidores e leitores não somente desta página, mas de tantas outras com diversas informações sobre TEA e sobre Terapia ABA me enviaram mensagens perguntando sobre a formação dos terapeutas do nosso país, de forma geral. Mais especificamente, me questionaram sobre os requisitos para um profissional se considerar terapeuta ABA e, alguns deles, inclusive, indagaram sobre certificação. Por esse motivo, reservei algum tempo para escrever esta publicação.


Existe um tipo de certificação internacional que qualifica um profissional como analista do comportamento. No link do ABA fora da mesinha chamado “Fora da mesinha segue” está o link direto para o site dessa certificação (BACB – Behavior Analyst Certification Board). É um processo criterioso e extremamente sério de seleção de profissionais que efetivamente utilizam os pressupostos da Análise do Comportamento em sua prática. Quem tiver interesse por mais detalhes, pode acessar o site pelo link: http://bacb.com/?wref=bif.


No Brasil, embora a certificação BACB tenha validade (porque afinal de contas é uma certificação internacional), ela não é uma exigência como parte das qualificações do profissional analista do comportamento. Para compreender isso é importante considerar a história de desenvolvimento da Análise do Comportamento em outras partes do mundo, especialmente nos EUA (berço da abordagem) e a história de desenvolvimento da área no nosso país. A Análise do Comportamento data sua origem oficial na década de 1930, nos EUA, com B. F. Skinner. Aqui no Brasil, suas contribuições passaram a compor a formação em cursos de Psicologia na década de 1960, com Fred Keller lecionando o primeiro curso de Análise do Comportamento na disciplina de Psicologia Experimental, na USP/SP. De lá para cá, os cursos de Psicologia de todo país têm em seus projetos curriculares inúmeras disciplinas em que fenômenos psicológicos são estudados à luz da Análise do Comportamento. Nesse sentido, todo aluno de Psicologia recebe uma formação fundamentada nessa contribuição da Psicologia como área de conhecimento (não entrarei no mérito da qualidade dessa formação em nível de curso de graduação, embora tenham muitas variações de curso para curso).


A certificação BACB existe desde 1998, de acordo com o site da própria organização. É possível afirmar, então, que a Análise do Comportamento é muito anterior a esse tipo de certificação, embora a existência dele seja um sinal inquestionável de aprimoramento da área e do campo de atuação. Precisamos considerar novamente que os EUA são o berço da Análise do Comportamento e nada mais natural e inerente ao processo de desenvolvimento de uma profissão que eles estejam alguns “passos” na nossa frente. Isso não significa que o trabalho que temos aqui no país, com profissionais com formação acadêmica sólida, possa sofrer algum demérito.


Para conquistar essa certificação em seu currículo, o profissional realmente não precisa ter formação em Psicologia. Aliás, mesmo nos cursos de Pós-Graduação no Brasil, essa não é uma exigência 100% das vezes. Isso significa, então, que não precisa ser psicólogo para ser analista do comportamento. O que existe é uma espécie de acordo tácito de que, a Análise do Comportamento sendo uma disciplina estudada dentro dos cursos de Psicologia, o profissional melhor capacitado (idealmente, claro) para garantir a aplicação coerente dos pressupostos dessa área, seja psicólogo. Coloquei que isso seria o ideal, pois também existem diversas pesquisas sobre formação profissional de ensino superior e, particularmente, do Psicólogo, que tratam das características e qualidade dessa formação no Brasil. Não entrarei em detalhes, pois esse tema renderia bem mais que um post. Além disso, é preciso deixar claro que um profissional de outros campos de atuação (Educação, Saúde, etc.) que passe a dedicar seu tempo na formação em Análise do Comportamento também pode vir a ser um excelente analista do comportamento.


Outra questão levantada foi sobre a competência dos profissionais no Brasil que se dizem “terapeutas ABA” e não apresentam uma certificação internacional como a BACB. Digo a vocês que os principais nomes na pesquisa e atuação em Análise do Comportamento no Brasil não tem essa certificação. Simplesmente porque não é um “carimbo” dizendo que o profissional é um analista do comportamento que garante efetivamente uma atuação de qualidade e fundamentada nos pressupostos da área. Não estou desconsiderando a BACB (até porque estou no processo para adquiri-la, mesmo já tendo mestrado e doutorado na área). Estou apenas convidando todos os leitores, pais, profissionais e interessados a pensar de uma forma mais contextualizada. Nós temos no nosso país longos, consistentes e coerentes processos de formação em Análise do Comportamento, responsáveis pela capacitação de muitos profissionais que não podem ser desconsiderados somente porque esse ou aquele não é um BACB.


Os critérios para escolha do profissional responsável pela terapia ABA (lembrando que esse é apenas um termo e que não especifica um atendimento exclusivo para indivíduos com diagnóstico de TEA – para entender melhor isso ou retomar alguma informação, acesse a página O QUE É ABA?, neste site) precisa passar, com certeza, por suas qualificações de formação e capacitação. A certificação BACB é UMA delas (não é única, nem tão pouco exclusiva, pelo menos por enquanto). Aos pais, cabe investigar a fundo com o profissional escolhido suas qualificações e tempo de trabalho. Aos profissionais, cabe o compromisso ético/profissional de garantir o tratamento de melhor qualidade aos seus atendidos.



Não basta conhecer um conjunto de técnicas e procedimentos em Análise do Comportamento para ser analista do comportamento. Também não basta um rótulo (por mais oficializado que ele seja) para garantir uma atuação de boa qualidade. Ser analista do comportamento é um estado que exige constante formação, estudo e produção de conhecimento. Precisamos pensar “fora da casinha”. Precisamos pensar “fora da mesinha” (sem deixa-la de lado, claro). Até a próxima!


28 de fevereiro de 2025
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