A essa altura você já deve ter compreendido, ao menos em parte, que Terapia ABA não é exclusiva para tratamento dos Transtornos do Espectro do Autismo. Tomara, pois meu esforço neste espaço é que você compreenda a amplitude desse tipo de terapia e do trabalho do analista do comportamento, de forma geral. Se ainda não ficou claro, por favor, (re)leia os posts passados e as páginas deste blog.
A Análise Aplicada do Comportamento (ABA) está fundamentada em um conjunto de características/dimensões. Deixarei, ao final desse texto, as fontes principais de informação sobre isso. Tentarei, aqui, explicitar essas características no contexto de intervenção sobre os TEA. Volto a dizer: é o analista do comportamento que precisa se preocupar e garantir essas características no seu trabalho. Você (mãe, pai, profissional de outros campos de atuação) precisa conhece-las de forma mais abrangente para, inclusive, avaliar o trabalho que está sendo realizado com seu filho. São elas:
APLICADA: o conhecimento produzido cientificamente pela Análise do Comportamento é utilizado na intervenção sobre problemas e necessidades socialmente significativos. Pode incluir as demandas, necessidades, problemas de um indivíduo (como na clínica, por exemplo) ou de grupos (estratégias podem ser utilizadas em nível e escala maior de alcance de pessoas).
COMPORTAMENTAL: o objeto de intervenção é o comportamento humano, de acordo com a caracterização base da Análise do Comportamento. Como tal, ele é passível de operacionalização e mensuração. Isso significa que o analista do comportamento é capaz de observar, descrever operacionalmente e mensurar esses comportamentos. Em vez de interpretar que a criança é “geniosa”, o analista do comportamento observa e descreve o que essa criança faz, na sua relação com o ambiente em que está inserida e somente a partir disso, fecha estratégias de intervenção. Nessa observação e descrição, o analista do comportamento pode descobrir, por exemplo, que o que chamamos de “geniosa” é na verdade uma tentativa de comunicação. Essa descrição operacional do comportamento parece mais vantajosa no sentido de proporcionar melhores condições de avaliação e, consequentemente, de intervenção.
ANALÍTICA E CONCEITUAL: no contexto da intervenção sobre TEA, analítica no sentido das mudanças ocorridas no comportamento do indivíduo serem resultados de intervenções planejadas. Ou seja, o desenvolvimento do repertório, de habilidades observadas após um período de terapia ABA se deve pela terapia (pelos procedimentos aplicados) e não por qualquer outra eventual razão. O analista do comportamento precisa ser capaz de demonstrar esse processo. É conceitual porque está fundamentada nos conceitos e conhecimento produzidos pela Análise do Comportamento.
TECNOLÓGICA: se engana quem pensa que tecnologia é sinônimo de máquinas extremamente sofisticadas (como vemos no senso comum). Tecnologia é aplicação do conhecimento produzido cientificamente para solução de problemas humanos. Ou seja, as estratégias e procedimentos da ABA são tecnologia para intervenção sobre comportamento humano. Como tal, ela precisa ser além de aplicada, ser replicável. Na intervenção sobre TEA, significa que todos os procedimentos utilizados para ensino de novos repertórios precisam ser descritos com clareza a ponto de serem utilizados por qualquer pessoa, obtendo os mesmos resultados: desenvolvimento de repertórios/habilidades do indivíduo.
RESULTADOS GENERALIZÁVEIS (NA MEDIDA DO POSSÍVEL): especificamente na intervenção sobre TEA, os repertórios desenvolvidos no contexto da terapia ABA precisam passar a serem emitidos em outros ambientes, naturais da vida do indivíduo. Isso significa que se a criança aprendeu a pedir um item de interesse com o terapeuta ou aplicador ABA, ela também precisará ser capaz de pedir para os pais, em casa, no shopping, numa festa, na escola, para a professora, para os colegas, etc. É nessa medida que afirmamos que os resultados são generalizáveis, dentro desse contexto de intervenção. Esse é um nível de entendimento dessa dimensão da ABA (não se esgotando nele, ok?). Falaremos mais sobre essa característica em outras publicações.
EFICAZ: no sentido de que a mudança produzida no comportamento do indivíduo não é situacional, momentânea. É resultado significativo e passa a compor efetivamente o seu repertório. No caso da intervenção sobre TEA, são comportamentos que o indivíduo passa a emitir com alta frequência, em diferentes contextos, frente a diversos estímulos e diante de diferentes pessoas.
Ressalto que a descrição feita aqui dessas características estão contextualizadas na terapia ABA aplicada aos TEA. Uma análise mais ampla e geral é feita na literatura consultada. Atreladas a essas características, o trabalho do analista do comportamento na terapia ABA aplicada aos TEA também é (precisa ser) intensivo – 20 a 40 horas semanais, contando tempo de terapia estruturada, orientação/treinamento de pais e cuidadores, orientação/treinamento de equipe escolar (e eventualmente, outros ambientes significativos da criança).
Pode soar óbvio ou repetitivo, mas não custa também deixar claro: o trabalho é individualizado. Sim, a coluna vertebral da intervenção é planejada a partir do conhecimento geral produzido pela Análise do Comportamento (por exemplo, a noção de comportamento é uma só, vale para qualquer comportamento, de qualquer indivíduo). Mas o que será aplicado para cada criança é planejado para aquela criança, respeitando suas características, seu ritmo e suas condições de aprendizagem.
Você está percebendo que as publicações estão ficando gradativamente mais densas? Não temos como escapar desse caminho. A terapia ABA é complexa. Meu intuito é guiar você por esse caminho de forma interessante e compreensível. Espero estar conseguindo!
Para quem quiser se aprofundar nessas características da ABA (não só no contexto de intervenção sobre TEA), seguem os links:
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