Seguindo o ritmo ditado pelo mês de abril, de conscientização sobre o Autismo, quando falamos do processo de inclusão da pessoa diagnosticada com TEA, uma das primeiras preocupações é a garantia desse processo no ambiente escolar. Afinal de contas, quando pensamos no desenvolvimento infantil na nossa cultura, a escola é o segundo ambiente mais significativo na vida de qualquer criança (considero o primeiro, a família).
B. F. Skinner (1904 – 1990), o fundador da Análise do Comportamento como disciplina científica e um dos principais pesquisadores/interessados no processo de ensino e aprendizagem definiu o ensino como “(…) arranjo de contingências [condições] de reforçamento sob as quais os alunos aprendem. Eles [os alunos] aprendem sem ensino nos seus ambientes naturais, mas os professores planejam [ou são responsáveis por planejar] contingências especiais para otimizar a aprendizagem, acelerando a aprendizagem de comportamentos que se daria mais lentamente [nos demais ambientes naturais] ou certificando-se da aprendizagem de comportamentos que, em outras condições, não ocorreria.” (The technology of teaching, p. 64-65). A tradução está contextualizada na nossa língua. O original para conferência segue ao final deste post.
Esse trecho de um dos principais livros de Skinner trata justamente do cerne do ambiente escolar: programar condições de ensino adequadas, ajustadas e, em última análise, individualizadas como forma de garantir a aprendizagem de comportamentos socialmente significativos. E mais, Skinner não destacou esse importante objetivo da escola especificamente para crianças com algum tipo de diagnóstico. Essa condição vale para qualquer criança. Nesse sentido, o ensino individualizado é o cerne da Análise do Comportamento. Não é à toa que Skinner dedicou parte de sua obra na descrição dessas importantes contingências, inclusive destacando a necessidade de uso da tecnologia para garantir mais eficiência e eficácia nesse processo.
Mas como podemos traduzir na prática essa descrição tão importante de Skinner? Tentarei colocar pelo menos em linhas gerais algumas estratégias desenvolvidas no contexto de intervenção sobre TEA em uma série de publicações, começando por esta. Quando falamos da necessidade de um arranjo de contingências para aprender, temos que pensar desde a estrutura física de uma sala de aula até a parceria na aplicação de estratégias de manejo de comportamento e pedagógicas com colegas de sala, professores, coordenação, direção e demais funcionários da escola.
Na página deste blog ABA na escola, destaquei a importância da parceria com a equipe escolar para que a intervenção ABA efetivamente aconteça nesse ambiente e nós sejamos capazes de completar as horas de estimulação tão necessárias para o desenvolvimento da criança com TEA. Sem dúvida, esse caminho da parceria não é dos mais fáceis, especialmente porque exige dos dois lados, família e escola, o equilíbrio constante entre o que é ideal (por exemplo, o que consta em leis) e o que é real (por exemplo, as condições necessárias para que as leis sejam efetivamente cumpridas). Entretanto, faz parte do nosso trabalho, do trabalho do analista do comportamento inclusive, transformar essa realidade por vezes difícil no mais próximo do que idealizamos.
Falarei, nessa série de posts, sobre os procedimentos ABA aplicados no processo de inclusão escolar das crianças com TEA. E começo trazendo um bom exemplo dessa tentativa de transformação e parceria entre família e escola. Pedi a autorização da família, escola e demais participantes do processo para postar algumas fotos muito especiais sobre o dia 02 de abril. Elas vêm lá de Itajubá/MG.
Não se trata de vestir uma simples camiseta em um dia marcadamente especial. Essa fotos simbolizam um processo de anos de parceria e conquistas de todos. Quer saber o que foi feito em termos de terapia ABA? Acompanhe os próximos posts.
Trecho original do livro The technology of teaching: “Teaching is the arrangemente of contingencies reinforcement under which students learn. They learn whithout teaching in their natural environments, but teachers arrange special contingencies which expedite learning, hastening the appearance of behavior which would otherwise be acquired slowly or making sure of the appearance of behavior which might otherwise never occur.” (p. 64-65).
Obra consultada:
Skinner, B. F. (1968). The technology of teaching. New York: Applenton-Century-Crofts.
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